Ajala e Ori
ORI MI O! SE RERE FUN MI!
MEU ORI! SE ALEGRE COMIGO!
Para termos idéia quanto a importância e precedência do ORI em relação aos demais ORISA, um Itan
do ODU OTURA MEJI, ao contar a história de um ORI que se perdeu no caminho que o conduzia do ORUN
para o AIYE, relata: "... OGUN chamou ORI e perguntou-lhe, "Você não sabe que você é o mais velho entre os ORISA?
Que você é o líder dos ORISA?'..." . Sem receio podemos dizer, "ORI mi a ba bo ki a to bo ORISA",
ou seja, "Meu ORI, que tem que ser cultuado antes que o ORISA" e temos um oriki dedicado à ORI que
nos fala que " Ko si ORISA ti da nigbe leyin ORI eni", significando, "... Não existe um ORISA que
apoie mais o homem do que o seu próprio ORI...".
Quando encontramos uma pessoa que, apesar de enfrentar na vida
uma série de dificuldades relacionadas a ações negativas ou maldade de outras pessoas, continua encontrando recursos internos,
força interior extraordinária, que lhe permitam a sobrevivência e, inclusive, muitas vezes, mantém resultados adequados de
realização na vida , podemos dizer, "ENIYAN KO FE KI ERU FI ASO, ORI ENI NI SO NI", ou
seja, "as pessoas não querem que você sobreviva, mas o seu ORI trabalha para você", trazendo, essa expressão, um indicador
muito importante de que um ORI resistente e forte é capaz de cuidar do homem e garantir-lhe a sobrevivência social
e as relações com a vida, apesar das dificuldades que ele enfrente. Esta é a razão pela qual o BORI, forma de louvação
e fortalecimento do ORI utilizada em nossa religião, é utilizado muitas vezes, precedendo ou, até, substituindo um
EBO. Isso se faz para que a pessoa encontre recursos internos adequados, esta força interior de que falamos, seja à adequação
ou ajustamento de suas condições frente às situações enfrentadas, seja quanto ao fortalecimento de suas reservas de energia
e consequente integração com suas fontes de vitalidade. É importante dizer que é o ORI que nos individualiza e,
por conseqüência, nos diferencia dos demais habitantes do mundo. Essa diferenciação é de natureza interna e nada no plano
das aparências físicas nos permite qualquer referencial de identificação dessas diferenças. . Sinalizando essa condição, talvez
uma das maiores lições que possamos receber com respeito a ORI possa ser extraída do Itan ODU OSA MEJI,
que reproduzimos a seguir e que é a resposta que foi dada por IFA para Mobowu, esposa de OGUN,
quando ela foi lhe consultar:
"ORI buruku ki i
wu tuulu. A ki i da ese asiweree mo loju-ona. A ki i m' ORI oloye lawujo. A dia
fun Mobowu Ti i se obinrin Ogun. ORI ti o joba lola, Enikan o mo Ki
toko-taya o mo pe'raa won ni were mo. ORI ti o joba lola, Enikan
o mo."
TRADUÇÃO
"Uma pessoa de mau ORI não nasce com a cabeça diferente das outras. Ninguém
consegue distinguir os passos do louco na rua. Uma pessoa que é líder não é diferente E também é difícil de ser reconhecida. É
o que foi dito à Mobowu, esposa de OGUN, que foi consultar IFA. Tanto esposo como esposa não
deviam se maltratar tanto, Nem fisicamente, nem espiritualmente. O motivo é que o ORI vai ser coroado E ninguém
sabe como será o futuro da pessoa."
Para os yoruba o ser humano é descrito como constituído dos seguintes elementos:
ARA, OJIJI, OKAN, EMI e ORI. ARA é corpo físico, a casa ou templo dos demais componentes. OJIJI
é o "fantasma" humano, é a representação visível da essência espiritual. OKAN é o coração físico, sede da inteligência,
do pensamento e da ação. EMI, está associado a respiração, é o sopro divino. Quando um homem morre, diz-se que
seu EMI partiu. ORI é o ORISA pessoal, em toda a sua força e grandeza. ORI é
o primeiro ORISA a ser louvado, representação particular da existência individualizada (a essência real do ser).
É aquele que guia, acompanha e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda vida e após a morte, referenciando sua
caminhada e a assistindo no cumprimento de seu destino. ORI em yoruba tem muitos significados - o sentido literal
é cabeça física, símbolo da cabeça interior (ORI INU). Espiritualmente, a cabeça como o ponto mais alto (ou superior)
do corpo humano representa o ORI. Enquanto ORISA pessoal de cada ser humano, com certeza ele está
mais interessado na realização e na felicidade de cada homem do que qualquer outro ORISA. Da mesma forma, mais
do que qualquer um, ele conhece as necessidades de cada homem em sua caminhada pela vida e, nos acertos e desacertos de cada
um, tem os recursos adequados e todos os indicadores que permitem a reorganização dos sistemas pessoais referentes a cada
ser humano. Reforçando esta questão temos um oriki que nos diz
"ORI lo nda eni Esi ondaye ORISA lo npa eni da O npa ORISA da ORISA
lo pa nida Bi isu won sun Aye ma pa temi da Ki ORI mi ma se ORI Ki ORI mi ma gba abodi"
TRADUÇÃO
"ORI
é o criador de todas as coisas ORI é que faz tudo acontecer, antes da vida começar É ORISA que pode mudar o homem Ninguém
consegue mudar ORISA ORISA que muda a vida do homem como inhame assado AYE*, não mude o meu destino Para
que o meu ORI não deixe que as pessoas me desrespeitem Que o meu ORI não me deixe ser desrespeitado por ninguém Meu
ORI, não aceite o mal."
(* AYE - conjunto das forças do bem e do mal)
Como foi dito, não existe um ORISA
que apoie mais o homem do que o seu próprio ORI: um trecho do adura (reza) feito durante o assentamento de um IGBA-ORI
diz:
"KORIKORI,
Que com o ase
do próprio ORI, O ORI vai sobreviver KOROKORO Da mesma forma que o ORI de Afuwape sobreviveu, O seu sobreviverá. ...Ele
será favorável a você. Tudo de que você precisa, Tudo o que você quer para a sua vida, É ao seu ORI que você deverá
pedir. É o ORI do homem que ouve o seu sofrimento..."
O que é então ORI, de que a natureza é constituído
e qual o seu papel na vida do homem? Em primeiro lugar, acredita-se que o corpo humano é constituído de duas partes: a cabeça
e o suporte - ORI e APERE. Acredita-se que este corpo adquire existência na medida em que recebe de OLODUNMARE
o sopro vivificador - o EMI. Este sopro foi o agente do processo da criação em seu primeiro momento e tem
sido o responsável pela geração e continuidade de toda a vida no universo. Este modelo descrito e de entendimento abrangente
para todas as formas de vida é repetido no ser humano. A cabeça e o seu suporte, ORI-APERE são formados a partir dos
elementos matrizes, enquanto o ORI-INU, interior, representa, na sua constituição, uma combinação de elementos, porções
de matéria-massa que é particularizada durante o processo de modelagem de cada ORI. Ele é único e, por conta disso,
particulariza e dá individualização à existência. Essa combinação "química" definirá parte das relações do homem com o mundo
sobrenatural e a religião, na medida em que determina o seu ELEDA, ORISA - símbolo do elemento
cósmico de formação, a que chamamos, adiante, de IPORI, daquele ORI-INU em particular. No Brasil vimos, com
certa frequência, o ELEDA ser chamado de ORISA-ORI, simplificação da relação aqui exposta.
ELEDA segundo Juana Elbein dos Santos em Os Nagô e a Morte, "se refere à entidade sobrenatural, à matéria-massa
que desprendeu uma porção da mesma para criar um ORI, consequentemente Criador de cabeças individuais..." Segundo a autora
também, "A espécie de material com o qual são modelados os ORI individuais indicará que tipo de trabalho é mais conveniente,
proporcionando satisfação e permitindo a cada um alcançar prosperidade. Indica também as interdições - EWO
- aquilo que lhe é proibido comer, por causa do elemento com o qual o seu ORI foi modelado". Ou seja, os EWO
representam a proibição de que o indivíduo "coma" alimentos que contenham a mesma "matéria" da qual foi retirada uma porção
para modelagem do seu ORI. A não observância da interdição traduz-se por uma disfunção energética de consequências
profundamente negativas para o equilíbrio do indivíduo, seja do ponto de vista orgânico, seja do ponto de vista do mundo emocional,
seja quanto as suas condições de realização do "programa" particular de existência. Falamos até aqui sobre a natureza e
a constituição do ORI. Agora, qual o seu papel na vida do homem? O conceito de ORI está intimamente ligado ao
conceito de destino pessoal e à instrumentalização do homem para a realização deste destino. Um Itan do ODU OGUNDA
MEJI, nos dá a exata dimensão da matéria quando nos relata sobre a correspondência entre o ORI e o homem e a relação
de causa e efeito existente nesta correspondência:
"...ORI, eu te saúdo! Aquele que é sábio, Foi feito sábio pelo próprio ORI. Aquele que é tolo, Foi feito
mais tolo que um pedaço de inhame, Pelo próprio ORI..."
No ODU OGBEYONU (Ogbe Ogunda) vamos encontrar
ainda, "...Quando acordo pela manhã coloco minha mão no ORI. ORI é fonte de sorte. ORI é ORI!...". e um oriki
dedicado à ORI, mostrando o papel que ORI tem na vida de cada pessoa quanto as suas relações interpessoais,
suas relações com as outras pessoas, e as suas condições de realização e progresso em todos os empreendimentos da vida, nos
diz:
"ORI mi Mo ke pe o o ORI
mi A pe je ORI mi Wa je mi o Ki ndi olowo o Ki ndi olola Ki ndi eni a pe sin Laye O,
ORI mi Lori a jiki ORI mi lori a ji yo mo Laye"
TRADUÇÃO
"Meu ORI Eu grito chamando
por você Meu ORI, Me responda Meu ORI, Venha me atender Para que eu seja uma pessoa rica e próspera Para
que eu seja uma pessoa a quem todos respeitem Oh, meu ORI! A ser louvado pela manhã, Que todos encontrem alegria
comigo"
Toda existência no universo da Criação se processa em dois planos: O mundo visível, o AIYE, universo
concreto que habitamos, e o mundo invisível, ORUN, onde habitam os seres sobrenaturais e os " duplos" de tudo
o que se encontra manifestado no AIYE. Não são, como é possível pensar, mundos independentes ou rigidamente separados.
Na realidade podemos afirmar que o AIYE é, antes de mais nada, uma "projeção" da realidade essencial que tem existência
e se processa no ORUN. Como diz a Profa. Dra. Iyakemi Ribeiro, em seu livro "Alma Africana no Brasil:
os iorubás", "Para o negro-africano o visível constitui manifestação do invisível. Para além das aparências encontra-se a
realidade, o sentido, o ser que através das aparências se manifesta. Sob toda manifestação viva reside uma força vital: de
Deus a um grão de areia, o universo africano é sem costura. (Erny, 1968:19) Universo de correspondências, analogias e interações,
no qual o homem e todos os demais seres constituem uma única rede de forças." É necessário entender, assim, que AIYE
e ORUN constituem uma unidade e, enquanto expressões de dois níveis de existência, são inseparáveis e complementares.
Essa unidade é simbolizada pelo IGBA-ODU, cabaça formada de duas metades unidas onde a parte inferior representa o
AIYE e a parte superior representa o ORUN. No interior, os "elementos indispensáveis à existência individualizada".
Poderia ser representada por uma figura e sua imagem refletida no espelho - há plena identidade entre elas, uma é apenas a
imagem invertida da outra. Podemos dizer nessa figuração que o AIYE é a imagem refletida do ORUN.
Essa analogia provavelmente explica a situação conhecida de que os ODU, quando vieram do ORUN para o
AIYE, tiveram sua ordem de precedência invertida. Ou seja, muito embora no AIYE considere-se EJIOGBE MEJI
como o mais antigo dos ODU, todo Babalawo saúda OFUN MEJI, ou ORANGUN MEJI como é também conhecido,
em sua realeza, dizendo: eepa ODU!, louvando assim sua antiguidade e sua precedência efetiva. Temos assim que toda
existência no AIYE reflete uma realidade anterior existente no ORUN. A existência no AIYE implica
em processar-se uma "modelagem" anterior no ORUN, a partir da qual porções de matérias-massas que constituem
a base da existência genérica são tomadas em fragmentos particulares e vão constituir a manifestação dessa existência em forma
individualizada no AIYE. Esses elementos matrizes possuem, por consequência, dupla existência: uma parcela presente
no ORUN e a outra parcela dando vitalidade ou formação às diferentes partes que formam a "realidade" individualizada
de vida. A esses fragmentos particulares retirados da massa genitora chamamos IPORI e é ele, IPORI, que determinará
o ORISA que cada indivíduo cultuará no AIYE, condicionando também sua instrumentalização particular na
relação com a vida e o repertório possível de escolhas que possa realizar. Aqui é importante reforçarmos que ORUN
não tem o mesmo significado que céu, assim como AIYE não tem a mesma representação que terra. ORUN -
AIYE nos trazem conceitos muito diferentes do binômio céu - terra a que possamos ter nos acostumado pelas condições
sincréticas que a religião dos ORISA terminou por apresentar no Brasil. Ao par céu - terra correspondem os conceitos
de SANMO - ILE.
A RESPEITO DO DESTINO HUMANO
Podemos perceber que a compreensão sobre o
papel que ORI desempenha na vida de cada homem está intimamente relacionado à crença na predestinação - na aceitação
de que o sucesso ou o insucesso de um homem depende em larga escala do destino pessoal que ele traz na vinda do ORUN
para o AIYE. A esse destino pessoal chamamos KADARA ou IPIN e é entendido que o homem o recebe no mesmo
momento em que escolhe livremente o ORI com que vai vir para a terra. ORI desempenha um papel importante
para os seguidores de IFA. Nele acredita-se que escolhemos nossos próprios destinos. E nós o fazemos mediante os auspícios
do ORISA IJALA MOPIN. A esfera de ação de IJALA é junto a OLODUNMARE e é ele que
sanciona as escolhas de destino que fazemos. Essas escolhas são documentadas pelas divindades que chamamos de ALUDUNDUN.
Um verso de IFA explica esta questão:
"Você
disse que foi apanhar o seu ORI. Você sabia onde Afuwape apanhou o seu ORI? Você poderia ter ido lá para apanhar o seu. Nós
pegamos nossos ORI nos domínios de IJALA, Assim somente nossos destinos diferem"
IJALA é responsável
pela modelação da cabeça humana, e acredita-se que o ORI e o ODU - signo regente de seu destino que escolhemos,
determina nossa fortuna ou atribulações na vida, como foi dito. IJALA, embora notável em sua habilidade, não é muito
responsável e, por isso, muitas vezes modela cabeças defeituosas: pode esquecer de colocar alguns acabamentos ou detalhes
desnecessários, como pode, ao levá-las ao forno para queimar, deixá-las por um tempo demasiado ou insuficiente. Tais cabeças
tornam-se assim, potencialmente fracas, incapazes de empreender a longa jornada para a terra, sem prejuízos. Se, desafortunadamente,
um homem escolhe uma dessas cabeças mal modeladas, estará destinando a fracassar na vida. Durante sua jornada para a terra,
a cabeça que permaneceu por tempo insuficiente ou demasiado no forno, poderá não resistir à ação de uma chuva forte e chegará
mais danificada ainda. Todo o esforço empreendido para obter sucesso na vida terrena terá grande parte de seus efeitos desviada
para reparar tais estragos. Pelo contrário, se um homem tem a sorte de escolher uma das cabeças realmente boas, tornar-se
próspero e bem sucedido na terra, uma vez que sua cabeça chega intacta e seus esforços redundam em construção real de tudo
aquilo que se proponha a realizar. O trabalho árduo trará, ao homem afortunado em sua escolha, excelentes resultados, já
que nada é necessário dispender para reparar a própria cabeça. Assim, para usufruir o sucesso potencial que a escolha de um
bom ORI acarreta, o homem deve trabalhar arduamente. Aqueles, entretanto que escolheram um mau ORI têm poucas
esperanças de progresso, ainda que passem o tempo todo se esforçando. Sendo estes os pressupostos, retomamos as perguntas:
Como saber se a escolha do próprio ORI foi boa ou má? Pode um homem conhecer as potencialidades da própria cabeça ou
da cabeça de outrem? O Jogo divinatório de IFA possibilita que a pessoa tome conhecimento dos desígnios do próprio
ORI, saiba a respeito do ORISA ou IRUNMALE que deve ser cultuado e conheça seus EWO
- proibições quanto ao consumo de alimentos, uso de cores e condutas morais. Muitas referências são feitas às relações
entre ORI e o destino pessoal. O destino descrito como IPIN ORI - a sina do ORI - pode ser dividido
em três partes: AKUNLEYAN, AKUNLEGBA E AYANMO. AKUNLEYAN é o pedido que você fez no
domínio de IJALA - o que você gostaria especificamente durante seu período de vida na terra: o número de anos que você
desejaria passar na terra, os tipos de sucesso que você espera obter, os tipos de parentes que você deseja. AKUNLEGBA
são aquelas coisas dadas a um indivíduo para ajudá-lo a realizar esses desejos. Por exemplo: uma criança que deseja morrer
na infância pode nascer durante uma epidemia para garantir a morte dele ou dela. AYANMO é aquela parte do
nosso destino que não pode ser mudada: nosso gênero (sexo) ou a família em que nascemos, por exemplo. Ambos, AKUNLEYAN
e AKUNLEGBA podem ser alterados ou modificados quer para bom ou para mau, dependendo das circunstâncias. Assim o
destino descrito como IPIN ORI - a sina do ORI pode sofrer alterações em decorrência da ação de pessoas
más chamadas como ARAYE - filhos do mundo, também chamadas AIYE - o mundo ou ainda, ELENINI - implacáveis
(amargos, sádicos, inexoráveis) inimigos das pessoas. Entre estes encontram-se as AJE - bruxas, os OSO
- feiticeiros, os envenenadores e todos aqueles que se dedicam a práticas malignas com intuito de estragar qualquer oportunidade
de sucesso humano. Sacrifício e ritual podem ajudar a melhorar as condições desfavoráveis que podem ter resultados destas
maquinações maléficas imprevisíveis. Todo ORI, embora criado bom, acha-se sujeito a mudanças. Vimos que feiticeiros,
bruxas, homens maus e a própria conduta podem transformar negativamente um ORI, sendo sinal dessa transformação uma
cadeia interminável de infelicidades na vida de um homem a despeito de seus esforços para melhorar. O ORI, entidade
parcialmente independente, considerado uma divindade em si próprio, é cultuado entre outras divindades, recebendo oferendas
e orações. Quando ORI INUestá bem, todo o ser do homem está em boas condições. Como foi dito, nossos ORI espirituais
são por eles mesmos subdivididos em dois elementos: APARI-INU e ORI APERE - APARI-INU representa o caráter (natureza),
ORI APERE representa o destino. Um indivíduo pode vir para a terra com um destino maravilhoso, mas se ele ou ela
vem com mau caráter (natureza), a probabilidade de desempenho (cumprimento, execução) desse destino é severamente comprometida. O
destino também pode ser afetado, então, pelo caráter da própria pessoa. Um bom destino deve ser sustentado por um bom caráter. Este
é como uma divindade: se bem cultuado concede sua proteção. Assim, o destino humano pode ser arruinado pela ação do homem.
IWA RE LAYE YII NI YOO DA O LEJO, ou seja, - "Seu caráter, na terra, proferirá sentença contra
você".
No ODU de OGBEOGUNDA, IFA diz:
"Um pilão realiza três funções Ele tritura inhame Ele
tritura índigo Ele é usado como uma tranca atrás da porta Foi feito um jogo adivinhatório para Oriseku, Ori-Elemere
e Afuwape Quando eles foram escolher seus destinos nos domínios de IJALA - MOPIN Foi solicitado para
eles que realizassem rituais Somente Afuwape realizou os rituais que foram solicitados Ele, em consequência,
tornou-se muito afortunado Os outros lamentaram, disseram que se soubessem onde Afuwape escolheria seu ORI,
eles teriam ido até lá para escolher os seus também.
Afuwape respondeu que, embora seus ORI fossem escolhidos
no mesmo lugar, seus destinos é que diferiam." A questão que aí se apresenta é que somente Afuwape mostrou bom caráter.
Respeitando sua crença e realizando seus sacrifícios, ele trouxe as bençãos potenciais de seu destino para a efetiva realização.
Seus amigos Oriseku e Ori-Elemere falharam em mostrar bom caráter pela recusa em realizar seus rituais e, por
isso, suas vidas sofreram as consequências. O nome IPIN está igualmente associado à ORUNMILA, conhecido
como ELERI-IPIN - o Senhor do Destino e que é aquele que esteve presente no momento da criação, conhecendo todos
os ORI, assistindo o compromisso do homem com seu destino, os objetivos de cada um no momento de sua vinda para o AIYE,
o programa particular de desenvolvimento de cada ser humano e sua instrumentalização para o cumprimento desse programa. ORUNMILA
conhece todos os destinos humanos e procura ajudar os homens a trilhar seus verdadeiros caminhos. Temos, assim, que um dos
papeis mais importantes de IFA em relação ao homem, além de ser o intérprete da relação entre os ORISA
e o homem, é o de ser o intermediário entre cada um e o seu ORI, entre cada homem e os desejos de seu ORI. Apenas
como registro, é preciso entender que esse mesmo papel ORUNMILA tem na relação com os demais ORISA,
sendo o intermediário entre cada um e o seu ORI. E ORUNMILA, Ele mesmo, consulta IFA! Nos momentos
de crise, a consulta ao oráculo de IFA permite acesso a instruções a respeito dos procedimentos desejáveis, sendo considerados
bons procedimentos os que não entram em desacordo com os propósitos do ORI. O ser que cumpre integralmente seu IPIN-ORI
(destino do ORI), amadurece para a morte e, recebendo os ritos fúnebres adequados, alcança a condição de ancestral
ao passar do AIYE para o ORUN. Há a crença na existência de duas áreas ocupadas por espíritos dos
mortos: ORUN RERE - o bom "céu", habitado pelas divindades e ancestrais, e ORUN APAADI
- o "céu" de muitas infelicidades, habitado pelos infelizes que sofreram má sorte e pelos maus, julgados pelo Ser Supremo,
segundo o ser caráter. Estes últimos ficam condenados à solidão e ao esquecimento, sem direito a lembrança ou a aparecerem
em sonhos e visões - morrem totalmente. ORUN RERE, por outro lado, é prazeiroso e sereno, vivendo
os espíritos numa comunidade composta de parentes e amigos. Podem também permanecer junto aos familiares e intervir em suas
atividades diárias, sendo-lhes permitido reencarnar em alguma criança nascida no âmbito familiar. A respeito do ORI,
resta ainda lembrar que trata-se de uma divindade pessoal, a mais interessada de todas no bem estar de seu devoto. Se o ORI
de um homem não simpatiza com sua causa, aquilo que ele deseja não pode ser concedido nem por OLODUNMARE, nem pelos
ORISA. Da mesma forma se o caráter de um indivíduo é mau, sua escolha de destino pode não se realizar. Se
nossa situação é realmente de um mau destino, e não é uma consequência de nosso caráter ou comportamento, então nosso ORI-APERE
precisa ser apaziguado. Oferendas prescritas ou rituais devem ser realizados para nos trazer de volta a um alinhamento
saudável. Considera-se vital para todo homem recorrer a IFA, sistema divinatório de consulta a ORUNMILA,
a intervalos regulares para tomar conhecimento do que agrada ou desagrada o próprio ORI. Enquanto intermediário entre
a pessoa e as divindades ( entre as quais o próprio ORI ) IFA não apenas informa sobre os desejos divinos
mas também conduz os sacrifícios ofertados às divindades para que estas possam cumprir seu papel: ajudar os ORI a conduzirem
as pessoas à realização do próprio destino. Se as coisas estão indo mal em sua vida, antes de apontar um dedo acusador
para as bruxas, para feitiços ou para seus inimigos, examine sua natureza. Se Você tem por hábito maltratar as pessoas
ou não considerar seus sentimentos, não procure qualquer felicidade ou sorte em sua vida, não importando o quanto Você possa
ser bem sucedido materialmente. Se, por outro lado, Você ajuda os outros e dá felicidade a eles, sua vida será cheia, não
só de riquezas mas também de alegria e felicidade. No entanto, lembre-se, é decididamente muito mais fácil alterar seus destino
do que sua natureza.
"Por toda parte onde
ORI seja próspero, deixe-me estar incluído, Por toda parte onde ORI seja fértil, deixe-me estar incluído, Por toda parte
onde ORI tenha todas as coisas boas da vida, deixe-me estar incluído. ORI, coloque-me em boa situação na vida, Que meus
pés me conduzam para onde as coisas me sejam favoráveis. Para onde IFA está me levando eu nunca sei Jogaram para Assore
no início de sua vida. Se há qualquer condição melhor do que aquela em que estou no presente, Que possa meu ORI não
falhar em colocar-me nela. Meu ORI, me ajude! Meu ORI, faça-me próspero! ORI é o protetor do homem antes das divindades."
BORI
(BO ORI)
BORI é o ritual de "dar comida" ou alimentar o ORI (bo ORI). Deve ser sempre precedido
de um jogo que defina sua necessidade e, ao mesmo tempo, oriente o sacerdote sobre os procedimentos particulares para o caso,
os ingredientes a serem utilizados naquela situação e o encaminhamento adequado a ser dado para aquela necessidade. Assim,
pode-se realizar um BORI apenas com um ou dois obi e água ou com todo um conjunto de alimentos e a louvação de objetos-símbolos
especialmente sacralizados para a ocasião. É importante entender que sempre que se louva algum tipo de alimento no ORI
de alguém está se procedendo a alimentação daquele ORI. O BORI pode se apresentar como necessário para
alguém em função de algumas situações.
Entre elas:
· como processo de religação do ORI com o seu duplo no ORUN, · como resposta à condições de "stress" ou
fragilização das estruturas psicológicas do indivíduo resultantes de situações particulares de vida, · como ritual
propiciatório ou complementar a um ebo, · como ritual propiciatório a processos iniciáticos, · como resposta
a uma necessidade espiritual resultante de feitiço ou destino, · como indicação de algum Odu (IFA), a partir da interpretação
das condições ligadas ao personagem mítico que se apresenta em um dos Itan correspondentes ao Odu.
Pode-se,
no geral das situações, estabelecer um ritual básico a ser seguido, não significando isso que o sacerdote deva entender esse
ritual básico como limitador da sua ação ou fórmula a ser seguida em todos os casos e situações. É importante lembrar sempre
que o uso e a combinação dos elementos a serem utilizados deve levar em conta as propriedades excitantes (gun) ou calmantes
(ero) de cada elemento que está sendo manipulado.
Textos do IOC
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