Xango
Senhor dos Trovões
Teria sido o terceiro Àlàáfìn Òyó
- Rei de Oyó -, filho de Oranian e Torosi.Na África sob seus aspectos, histórico e divino. A filha de Elempe, rei dos Tapás,
que havia firmado uma aliança com Oranian.Xangô cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se mais tarde, em Kòso (Kossô),
onde os habitantes não o aceitaram pelo seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se por sua
força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô.
Conservou, assim, seu título de Obá Kòso, que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus oríkì. Xangô, no seu aspecto
divino, permanece filho de Oranian, divinizado porém, tendo Yamase como mãe e três divindades como esposas: Oyá, Oxum e Obá.
Xangô é o irmão mais jovem, não somente de Dadá-Ajaká como também de Obaluaiyè. Entretanto, ao que parece, não são os vínculos
de parentesco que permitem explicar a ligação entre ambos, mas sua origem comum em Tapá, lugar onde Obaluaiyè seria mais antigo que Xangô ,
e, por deferencia para com o mais velho, em certas cidades com Seketê e Ifanhim são sempre feitas oferendas a
Obaluayiè na véspera da celebração das cerimônias para Xangô. Xangô, é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os
mentirosos, os ladrões e os malfeitores, razão do que de sobra, para ser denominado, deus da justiça. Os èdùn àrá (pedras
de raio - na verdade, pedras neolíticas em forma de machado), são consideradas emanações de Xangô, e são colocadas sobre um
odó - pilão de madeira esculpida -, consagrado à Xangô. Seu símbolo é oxé - machado de duas lâminas - lembra o símbolo de
Zeus em Creta. Esse oxé parece ser a estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao memso
tempo, o duplo machado e lembra, de certa forma, a cerimônia chamada ajere, na qual os iniciados de Xangô devem carregar na
cabeça uma vasilha cheia de furos, dentro da qual queima um fogo vivo; e, em uma outra cerimônia, chamada àkàrà, durante a
Qual engolem mechas de algodão embebidas em azeite de dendê em combustão. É uma referência à lenda, segundo a qual Xangô tinha
o poder de escarrar fogo graças a um talismã que ele pedira à Oyá buscar no território bariba. Os adeptos de Xangô , em cerimônias,
seguram nas mãos o xéré , um instrumento musical utilizado apenas por eles (desde que autorizados), feito de uma cabaça alongada
e contendo no seu interior pequenos grãos, que convenientemente sacudido, imita o ruído da chuva. Em algumas situações também
usa um làbà - uma bolsa grande em couro ornamentado -, onde guardaria seus èdùn àrà, que lança sobre a terra durante as tempestades.
Suas danças são acompanhadas por um tambor chamado bàtá (tem uma forma de ampulheta, com couro dos dois lados de tamanhos
diferentes), são pendurados no pescoço por uma tira de couro, e seus tocadores, os olúbatá, que batem com uma tira de couro
no lado menor do tambor, para fazer vibrar o instrumento, e com a mão fazem pressões mais ou menos fortes do outro lado, para
obter os tosn da língua yorubá. No Recife, seu nome serve mesmo para designar o conjunto de cultos africanos. Suas cores são
o vermelho e branco, e sua saudação é: Kawó kabiyèsílé ! - Venham ver o Rei descer sobre a terra!! Em sua dançá, o alujá ,
Xangô brande orgulhosamente seu oxé e assim que a cadência se acelera, ele faz um gesto de quem vai pegar num labá (sua bolsa)
imaginário, as pedras de raio, e lançá-las sobre a terra.
Xangô está em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos
governos, de um modo geral. Xangô é a ideologia, a decisão, a vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho,
a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, a vontade de vencer. Também o sentido de
realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o poder de liderança. Para Xangô, a justiça está
acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a pena; o respeito pelo rei é mais importante que o medo. Este, que apesar
de grande guerreiro, justo e conquistador, detesta doenças, a morte e aquilo que já morreu. Xangô é avesso a eguns (espíritos
desencarnados). Admite-se até que ele é uma espécie de imã de eguns, daí sua aversão a eles. Xangô costuma entregar a cabeça
de seus filhos a Obaluaiê e Omulu sete meses antes da morte destes, tal o grau de aversão que tem por doenças e coisas mortas.
Qualidades: 1) Dadá 2) Afonjá 3) Lubé 4) Ogodo 5) Koso 6) Jakuta 7) Aganju 8) Baru 9) Oloroke 10) Airá Intile 11) Airá
Igbonam 12) Airá Mofe ou Adjaos XANGO: AIRÁ (AGOYNHAM);
AFONJÁ; AGANJÚ; AGOGO; BARU; ALAFIM Alguns constam ainda Oranian, que seria seu pai; Dadá seu irmào,
Aganju um dos seus sucessores, Ogodo que segura dois oxés, sendo o seu èdùn àrà composto de dois gumes e é originário de tapá;
Os Airá seriam muito velhos, sempre vestidos de branco e usando segi (contas azuis) em lugar dos corais vermelhos, e seriam
originários da região de Savê.
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o artigo de Reginaldo Prandi :
Xangô
LENDAS DE XANGO
1-
Xangô e seu Reino
Xangô era filho de Oranian,
valoroso guerreiro, cujo corpo era preto à direita e branco à esquerda. Homem valente à direita Homem valente à esquerda Homem
valente em casa Homem valente na guerra oranian foi fundador do Reino de Oyó, na terra dos iorubás, Durante suas guerras,
ele passa sempre por empê, território Tapá, tamb´me Nupê. Elempê, o rei do lugar, fez uma aliança com Oranian e deu-lhe,
também, sua filha em casamento . Desta união nasceu este filho vigoroso e forte, chamado Xangô. Durante sua infância,
em Tapá, xangô só pensava em encrenca. Encolerizava-se facilmente, era impaciente, adorava dar ordens e não tolerava nenhuma
reclamação. Xangô só gostava brincadeira de guerra e de briga. Comandados pivetes da cidade, ele ia roubar os frutos das árvores.
crescido, seu caráter valente o levou a partir em busca de aventura gloriosas. Xangô tinha um oxé - machado de duas lâminas;
tinha também um saco de couro, pendurado em seu ombro esquerdo. Nele encontravam-se os elementos do seu poder ou axé: aquilo
que ele engolia para cuspir fogo e amendontrar seus adversários, e a pedras e raios com as quais ele destruía as casas de
seu inimigos. O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô. Ai chegando, as pessoas assustadas disseram: "Quem
é esse perigoso personagem!" "Ele é brutal e petulante demais! "Não o queremos entre nós!" "Ele vai maltratar-nos!" "Ele
vai espalhar a desordem na cidade!" "Não queremos entre nós!" Mas Xangô os ameaçou com seu oxé. Sua respiração virou
fogo e ele destruiu algumas casas com suas pedras de raio. Todo mundo de Kossô veio pedir-lhe clemência, gritando: Kabiyesi
Xangô, Kawo Kabiyesi Xangô Obá Kossô! "Vamos todos ver e saudar Xangô, Rei de Kossô!" Quando Xangô tornou-se rei de Kossô,
ele pôs-se à obra. Contrariamente ao que as pessoas desconfiavam e temiam, Xangô fazia as coisas com alma e dignidade. Ele
realizava trabalhos úteis comunidade. Mas esta vida calma não convinha a Xangô. Ele adorava as viagens e as aventuras. Assim,
partiu novamente e chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum. Ogum o terrível guerreiro. Ogum o poderoso ferreiro. Ogum estava
casado com Iansã, senhora dos ventos e das tempestades. Ele ajudava Ogum em suas atividades. Todas as manhãs, Iansã o acompanhava
à forja e carregava, para ele, as ferramentas. O vento soprava e fazia: fuku, fuku, fuku e Ogum batia sobre a bigorna: beng,
beng, beng... Xangô gostava de sentar-se ao lado da forja para ver Ogum trabalhar. Vez por outra, ele olhava para Iansã. Iansã,
também, espiava furtivamente Xangô. Xangô era vaidoso e cuidava muito de sua aparência, a ponto de trançar seus cabelos como
o de uma mulher. Ele fizera furos nos lobos de suas orelhas, onde pendurava argolas. Que elegância! Muito impressionada pela
distinção e pelo brilho de Xangô, Iansã fugiu com ele e tornou-se sua primeira mulher. Xangô voltou por pouco tempo a Kossô,
seguindo depois, com seus súditos, para o reino de Oyó, o reino fundado, antigamente, por seu pai Oranian. O trono estava
ocupado por um meio irmão de Xangô, mais velho que ele, chamado Dadá-Ajaká, um rei pacífico, que amava a beleza e as artes.
Xangô instalou-se em Oyó, um novo bairro que chamou de Kossô. Ele conserva assim, seu título de Obá kossô - "Rei de Kossô".
Xangô guerreava para seu irmão Dadá. O reino de Oyó expandia-se para os quatros cantos do mundo. Ele se estendeu para o Norte.
Ele se estendeu para o sul. Ele se estendeu para o Leste e se estendeu para o Oeste. Xangô, então, destronou seu irmão Dadá-Ajaká
e fez-se rei em seu lugar. Kabiyesi Xangô Alafin Oyó Alayeluwa! "Viva o Rei Xangô, dono do palácio de Oyó e senhor
do mundo!" Xangô construiu um palácio com cem colunas de bronze, ele tinha um exército de cem mil cavaleiros. Vivia entre
suas mulheres e seus filhos. Iansã, sua primeira mulher, bonita e ciumenta. Oxum, sua segunda mulher, coquete e dengosa. Obá,
sua terceira mulher, robusta e trabalhadora. Sete anos mais tarde, foi fim do seu reino: Xangô, acompanhado de Iansã, subira
a colina de Igbeti, cuja vista dominava seu palácio de cem colunas de bronze. Ele queria experimentar uma nova fórmula que
inventara para lançar raios. A fórmula era tão boa que destruiu todo o seu palácio! Adeus mulheres, crianças, servos, riquezas,
cavalos, bois e carneiros. Tudo havia desaparecido, fulminado, espalhando e reduzido a cinzas. Xangô, desesperado, seguido
apenas por Iansã, voltou para Tapá. Entretanto, chegando a Kossô, seu coração no suportou tanta tristeza. Xangô bateu violentamente
com os pés no chão e afundou-se terra a dentro. Oxum e Obá transformaram-se em rios e todos tornaram-se orixás. Xangô, orixá
do trovão, Kawô Kabiyesi le!
2- Dadá-Ajaká
Dadá-Ajaká,
filho mais velho de Oranian, irmão consangüíneo de Xangô reinava então em Oyó. Dadá é o nome dados pelos iorubás às crianças
cujos cabelos cresciam em tufos que se frisam separadamente. "Ele amava as crianças, a beleza e as artes; de caráter calmo
e pacífico... e não tinha a energia que um verdadeiro chefe dessa época". Xangô o destronou e Dadá-Ajaká exilou-se em Igboho,
durante os sete anos de reinado de seu meio-irmão. Teve que se contentar, então, em usar uma coroa feita de búzios, chamada
adé de baáyàni. Depois que Xangô deixou Oyó, Dadá-Ajaká voltou a reinar. Em contraste com a primeira vez, ele mostrou-se agora
valente e guerreiro, voltou-se contra os parentes da família materna de Xangô, atacando os tapás.
3-Oxalá
- Pai de Xangô
Sango, filho de Obatalá,
era um jovem rebelde e vez por outra saía pelo mundo botando fogo pela boca, queimando cidades e fazendo arruaça. Seu pai,
Obatalá, era informado de seus atos, recebendo queixas de todas as partes da terra. Obatalá alegava que seu filho era como
era por não haver sido criado junto dele, mas que, algum dia, conseguiria dominá-lo. Certo dia, estando Sango na casa de
Obá, deixou seu cavalo branco amarrado junto à porta da casa. Obatalá e Odudua passaram por lá, viram o animal de Sango, e
o levaram com eles. Ao sair, Sango percebeu o roubo e enfurecido saiu em busca do animal, perguntando aqui e acolá. Chegando
a uma vila próxima dali, informaram-lhe que dois velhos estavam levando consigo seu animal, o que deixou Sango ainda mais
colérico. Sango alcançou os dois velhos e ao tentar agredi-los percebeu que eram Obatalá e Odudua. Obatalá levantou
seu opaxorô (cajado) e ordenou: "Sangò kunlé, foribalé". Sango desarmado atirou-se ao chão em total submissão à Obatalá. Sango
tinha consigo seu colar de contas vermelhas, que Obatalá arrebentou e misturou a elas suas contas brancas dizendo: "Isto é
para que toda a terra saiba que você é meu filho". Daquele dia em diante Sango submeteu-se às ordens do velho rei.
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