Ogun
Orixá do ferro e da Guerra,
Ogum é apontado historicamente como filho mais velho e querido de Oduduwá, o criador da existência. Conhecido também como
Ogum Beira-Mar, Yara, Megê, e outros nomes é considerado o mais ativo de todos os orixás. Aliado poderoso, guerreiro feroz,
Ogum também é um amigo seguro, paternal e um excelente companheiro na caminhada da vida, garantindo aos seus filhos uma existência
de muitas conquistas , longe da acomodação. Ogun é líder, centralizador do poder, hábil e estrategista. Está, normalmente
presente nas mudanças sociais, políticas e estruturais. Em casa, com a família, no bairro, na cidade ou no país, Ogum é o
grande conselheiro na hora de se escolher novos caminhos a seguir.
Está ligado ao mistério das árvores, consequentemente à Oxalá. Seu "assento" está ao pé de um Igí-uyeuè (cajazeira)
no Brasil, onde um adàn, akòko ou Àràbà na Nigéria e no Daomé, e rodeado por uma cerca de peregun. Podendo também ficar ao
pé do Igí-òpé cujo tronco simboliza a matéria individualizada dos funfun (orixás do branco, particularmente Oxalá), que as
folhas brotadas sobre os ramos ou troncos, simbolizam descendentes e que o màrìwò é a representação mais simbólica de Ogún. Ogún data de tempos proto-históricos,
é pré-histórico, violento e pioneiro; suas armas são primeiro de pedra, depois o ferro. Sua primogenitora converte-o em quase
irmão gêmeo de Exú. Deus da guerra, imagem arquetípica do soldado, Ogún é também o deus do
ferro, da metalurgia. Do ferreiro ao cirurgião, todos os que utilizam instrumentos de ferro (e o aço por consequencia) em
seu trabalho: agricultores, caçadores, açougueiro, barbeiros, marceneiros, carpinteiros, escultores e outros que juntaram-se
ao grupo desde o início do século, mecânicos e motoristas; rendem homenagem à Ogún. Nesse sentido ele é o arquétipo da conquista
da civilização humana, consolidada na idade do ferro. Orixá de personalidade violenta, obstinada, constante, viril, disciplinada,
quando não rígida. Na sua estreita relação, com a natureza humana, na qual é o regente dos
"caminhos" no seu sentido de trabalho, oportunidades profissionais, e ao mesmo tempo "guardião" da casa, é expressa em sua
cantiga:
Ogún á jó (Ogún dançará) e màrìwò (fronde da palmeira, usada como sua roupa) Ogún Akòró e màrìwò Iwó a gba 'lé bg'ònà (ele ocupará a casa e o caminho) Ogun á jó e màrìwò màá
tú yeye (fronde da palmeira cresça)
Nesta outra cantiga se faz referência à pa lónìí - corta hoje Pa o jàre - corte-o, por favor Léle
- completamente
Akóro
pa lónìí ó Pa o
jàre pa léle pa Ogún pa o jàre Akóro - uma qualidade de Ogún
Nesta
toada está se pedindo para Ogun abrir os caminhos, pa : vai cortando, desembaraçando o caminho. Uma outra tradução, fala em
matar, de quando os orixás vinham a cavalo, na guerra, e que eles brigavam. Historicamente,
teria sido o filho mais velho de Odùduà, o fundador de Ifé, usando o título de Oniré (Rei de Irê), por se apossar da cidade
de Irê, matando seu rei; usava uma diadema, chamada àkòró , e isso lhe valeu ser saudado, até hoje, sob os nomes de Ogún Oniré
e Ogún Aláàkòró, inclusive no Brasil, trazidos pelos descendentes dos yorubás.
Dia da Semana: terça-feira
Cores: azul marinho
Comida: feijão preto - inhame assado
Saudação: Emi Neji Ogum Lacae!
Domínio: Caminhos e Guerras
Ogún é único, mas, em Irê,
diz-se que ele é composto de sete partes. Ogún méjeje lóòde Iré, frase que faz alusão às sete aldeias , hoje desaparecidas,
que existiriam em volta de Irê. O número sete é associado à Ogún e ele ;e representado nos lugares que lhe são consagrados,
por instrumentos de ferro, em número de sete, catorze ou vinte e um, pendurados numa haste horizontal, também de ferro: lança,
espada, enxada, torquês, facão, ponta de flecha e enxó, símbolos de suas atividades.Sua cor é o azul escuro, é o primeiro
a ser saudado depois de Esù .É sempre Ogún que desfila na frente, "abrindo caminho" para os outros orixás (mais uma vez, a
indicação da sua função de abrir caminhos), quando eles entram no Ilê nos dias de festa, manifestados e vestidos com suas
roupas simbólicas.
Qualidades: 1) Onire 2) Alagbede 3) Já 4) Omini 5) Wari 6)
Eroto ndo 7) Akoro Onigbe
Arquétipo de seus filhos:
Pessoas impulsivas, briguentas
e que não desistem nunca de seus objetivos.
LENDAS DE OGUN
1-Uma
história de Ifá, explica como o número 7 foi relacionado a Ogún e o número 9 a Oyá.
"Oyá
era a companheira de Ogún antes de se tornar a mulher de Xangô. Ela ajudava o deus dos ferreiros no seu trabalho; carregava
docilmente seus instrumentos, da casa à oficina, e aí ela manejava o fole para ativar o fogo da forja. Um dia, Ogún ofereceu
à Oyá uma vara de ferro, semelhante a uma de sua propriedade, e que tinha o dom de dividir em sete partes os homens e em nove
as mulheres que por ela fossem tocados no decorrer de uma briga. Xangô gostava de vir sentar-se à forja a fim de apreciar
Ogún bater o ferro e, frequentemente, lançava olhares a Oyá; esta, por seu lado, também o olhava furtivamente. Xangô era muito
elegante, seus cabelos eram trançados e usava brincos, colares e pulseiras. Sua imponência e seu poder impressionaram Oyá.
Aconteceu, então, o que era de esperar: um belo dia, ela fugiu com ele. Ogún lançou-se à sua perseguição, encontrou os fugitivos
e brandiu sua vara mágica. Oyá fez o mesmo e eles se tocaram ao mesmo tempo. E, assim, Ogún foi dividido em sete partes e
Oyá, em nove, recebendo ele o nome de Ogún Mejé e ela o de Yansã, cuja origem vem de Iyámésan - 'a mãe (transformada em) nove'."
Sua cor é o azul escuro, é o primeiro a ser saudado depois que exu é "despachado" (ritual que antecede os Xirés - ocasião
festiva, que as casas de candomblé, cantam para todos os orixás - que este tipo de exú, na sua forma negativa de maldoso,
funcionando também como uma espécie de guardião do ritual, contra outros tipos de espíritos "não iluminados", não perturbe
e não deixe, perturbarem o culto). É sempre Ogún que desfila na frente, "abrindo caminho" para os outros orixás (mais uma
vez, a indicação da sua função de abrir caminhos), quando eles entram no Ilê nos dias de festa, manifestados e vestidos com
suas roupas simbólicas
2-Ogun dá aos Homens o segredo do ferro
Na terra criada por Obatalá, em ifè, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam
em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por
isso o trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da população de ifé, a comida andava escassa. Era necessário
plantar uma área maior. Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores daquelas terras
para aumentar a área da lavoura. Ossain, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas
seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossain, todos os outros orixás
tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio.
Ogun, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então. Quando todos
os orixás tinham fracassado, Ogun pegou seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou todo a área que eles precisavam
para o plantio. Os orixás admirados, perguntaram a Ogun de que material era feito o tão poderoso e resistente facão.
Ogun respondeu a todos que seu facão era feito de ferro e que ele mesmo havia forjado, e que era um segredo que ele recebeu
de Orunmilá. Os orixás invejavam Ogun pelos benefícios que o ferro trazia não só à agricultura, como à caça e até mesmo
à guerra. Por muito tempo os orixás importunaram Ogun para saber do segredo do ferro, mas ele mantinha o segredo
só para si. Os orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca de que ele lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão
resistente. Ogun então aceitou a proposta. Os humanos também vieram a Ogun pedir-lhe o conhecimento do ferro.
E Ogun lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro tiveram sua lança de ferro.
Mas, apesar de Ogun ter aceitado o comando dos orixás, antes de mais nada ele era um caçador.
Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil temporada.
Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado.
Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado. Ogun se decepcionou com os
orixás, pois, quando precisaram dele para conhecer o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora
diziam que não era digno de governá-los. Então Ogun banhou-se, vestiu-se com folhas da palmeira do dendezeiro
desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante chamado Irê, construiu sua nova moradia, embaixo da árvore
de acocô e lá permaneceu.
Os humanos que também receberam de Ogun o segredo do ferro, não o esqueceram. Uma vez por
ano, celebram a festa de Iudê-Ogun. Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios e oferendas
em memória de Ogun que será o senhor do ferro para sempre.
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