Obaluayie
Obàluáyê; "Rei dono da Terra" , Omolu "Filho do Senhor", Sapata "Dono da Terra" são os nomes dados a Sànpònná (um
título ligado a grande calor - o sol - também é conhecido como ( Babá Igbona = pai da quentura) deus da varíola e das
doenças contagiosas, é ligado simbolicamente ao mundo dos mortos. Outra corrente os define como: Obàluáyê: Obá - ilu; aiye;
Rei, dono, senhor; da vida; na terra; Omolu; Omo-ilu; Rei, dono, senhor; da vida. Sua dança o Opanijé (cuja tradução é: ele
mata qualquer um e come), como um ser doente onde mostra suas feridas, o céu e a terra, sua lenda, em outras danças, dança
curvado para frente, como que atormentado por dores, e imitam seu sofrimento, coceiras e tremores de febre. Seu "arma" (emblema) é o Xaxará (Sàsàrà), espécie de cetro de mão, feito de nervuras da palha do dendezeiro,
enfeitado com búzios e contas, em que ele capta das casas e das pessoas as energias negativas, bem como "varre" as doenças,
impurezas e males sobrenaturais. Esta representação nos mostra sua ligação a terra, ao tronco e ramo das árvores, transporta
assim o Asé (axé) preto, vermelho e branco. Está relacionado com o axé preto (terra), contido no segredo do "ventre fecundado"
e com os espíritos contidos na terra. Sua contas como Omolu são vermelho, preto e branco,
como Obàluáyê o preto e branco, como Xapana, o preto e vermelho. Também usa o lagidiba, seu colar ritual feito de pequenos
discos preto de chifre de búfalo cortado em rodelinhas, é usado para proteger de doenças e tem uma conotação de grau hierárquico.
Faz muito uso dos cauris (búzios) em seu brajá (colar de búzios) e nos paramentos. Em uma região é ligado a riqueza e patrono
dos cauris e conjunto de 16 búzios + 1 da leitura esotérica "érindílogun".Na Nigéria os Owo Érindínlogun adoram Obàluáyê e usam, no punho
esquerdo, uma tira de Igbosu (pano africano) onde são costurados cauris esó.
Sua Saudação é "Atoto" quer dizer; Silêncio, escutai; hora da devoção.
Sua vestimenta é feita de ìko , é uma fibra de ráfia extraida do Igí-Ògòrò, a "palha da costa" , elemento de grande
significado ritualístico, principalmente em ritos ligados a morte e o sobrenatural, sua presença indica que algo deve ficar
oculto. É composta de duas partes o "Filá" e o "Azé", a primeira parte, a de cima que cobre a cabeça é uma espécie de capuz
trançado de palha da costa, acrescido de palhas em toda sua volta, que passam da cintura, o Azé , seu asó-ìko (roupa de palha)
é uma saia de palha da costa que vai até os pés em alguns casos, em outros, acima dos joelhos, por baixo desta saia vai um
Xokotô, espécie de calça, também chamado "cauçulú", em que oculta o mistério da morte e do renascimento. Nesta vestimenta
acompanha algumas cabaças penduradas, onde supostamente carrega seus remédios. Ao vestir-se com ìko e cauris, revela sua importância
e ligação com a morte.
Sua
festa anual é o Olubajé, (Olu-aquele que, ba-aceita, jé-comer ; ou ainda aquele-que-come), são feitas oferendas e são servidas
suas comidas votivas, seus "filhos" devidamente "incorporados" e paramentados oferecem as mesmas aos convidados/assistentes
desta festa, em folhas de bananeira ou mamona. Suas quizilas (proibições) mudam de casa
para casa, e de nação para nação; carneiro, peixe de rio de couro, caranguejo, carne de porco, pipoca, jaca... Tido como filho
de Nànà, no Brasil, sua origem, forma, nome e culto na África é bastante variado, de acordo com a região, essa variação de
nomes é de conformidade com a região, Obàluáyê/Xapanã em Tapá (nupê) chegando ao território Mahi ao norte do Daomé; Sapata
é sua versão fon, trazido pelos nagôs. Em alguns lugares se misturam em outros são deuses distintos, confundido até com Nànà
Buruku; Omolu em keto e Abeokutá. Seu parentesco com Oxumare e Iroko é observado em Keto
(vindo de Aisê segundo uns e Adja Popo segundo outros), onde pode se ver uma lança (oko Omolu) cravada na terra, esculpida
em madeira onde figuram esses tres personagens superpostas, também em Fita próximo de Pahougnan, território Mahi, onde o rei
Oba Sereju, recebera o fetiche Moru, três fetiches ao mesmo tempo Moru (Omolu), Dan (Oxumare) e seu filho Loko (Iroko).
Qualidades: Jagun Agbagba (ligação com Oyá) Omolu Obàluáyê Soponna/Sapata/Sakpatá Afoman/Akavan/Kavungo (ligação com Exú) afomo; contagiante,infeccioso Savalu/Sapekó (ligação com Nana) Dasa Arinwarun
(wariwaru) título de xapanan Azonsu/Ajansu/Ajunsu (ligação com Oxalá, Oxumare) Azoani (ligação com Yemanjá e Oyá) Posun/Posuru Agoro Tetu/Etetu Topodun Paru Arawe/Arapaná(ligação
com oyá) Ajoji/Ajagun (ligação com Ogun, Oxagian) Avimaje/Ajiuziun
(ligação com Nana, Ossain) Ahoye Aruaje Ahosuji/Segí
(Ligação com Yemanjá, Oxumare/Besén
LENDAS DE OBALUAYIE
1-OBALUAYIE ÉABANDONADO POR NANÃ
Por causa
do feitiço usado por Nanã para engravidar, Omolu nasceu todo deformado. Desgostosa com o aspecto do filho, Nanã abandonou-o
na beira da praia,para que o mar o levasse. Um grande caranguejo encontrou o bebê e atacou-o com as pinças, tirando pedaços
da sua carne. Quando Omolu estava todo ferido e quase morrendo, Iemanjá saiu do mar e o encontrou. Penalizada, acomodou-o
numa gruta e passou a cuidar dele, fazendo curativos com folhas de bananeira e alimentando-o com pipoca sem sal nem gordura
até que o bebê se recuperou. Então Iemanjá criou-o como se fosse seu filho.
2- A REVELAÇÃO DE OBALUAYIE
Omolu tinha o rosto muito deformado e a pele cheia de cicatrizes. Por isso, vivia sempre isolado, se escondendo de
todos. Certo dia, houve uma festa de que todos os Orixás participavam, mas Ogum percebeu que o irmão não tinha vindo dançar.
Quando lhe disseram que ele tinha vergonha de seu aspecto, Ogum foi ao mato, colheu palha e fez uma capa com que Omolu se
cobriu da cabeça aos pés, tendo então coragem de se aproximar dos outros. Mas ainda não dançava, pois todos tinham nojo de
tocá-lo. Apenas Iansã teve coragem; quando dançaram, a ventania levantou a palha e todos viram um rapaz bonito e sadio;e Oxum
ficou morrendo de inveja da irmã.
3-
A GRATIDÃO PELA CURA
Quando
Obaluaê ficou rapaz, resolveu correr mundo para ganhar a vida. Partiu vestido com simplicidade e começou a procurar trabalho,
mas nada conseguiu. Logo começou a passar fome, mas nem uma esmola lhe deram. Saindo da cidade, embrenhou-se na mata,onde
se alimentava de ervas e caça, tendo por companhia um cão e as serpentes da terra. Ficou muito doente.Por fim, quando achava
que ia morrer, Olorun curou as feridas que cobriam seu corpo. Agradecido, ele se dedicou à tarefa de viajar pelas aldeias
para curar os enfermos e vencer as epidemias que castigaram todos que lhe negaram auxílio e abrigo
4- XAPANÃ NO DAOMÉ
Em terras iorubás havia um homem chamado Xapanã. Avesso aos preceitos morais, levava uma vida dissoluta. Acabou contagiado
por várias enfermidades que assolavam a Terra. Não obedecia aos conselhos das divindades e dos adivinhos. Teve varíola, doenças
venéreas, males de todo tipo. Por determinação dos orixás, Xapanã foi sendo mutilado mais e mais pelas doenças, não sendo
acolhido nem mesmo por seus filhos. No entanto, foi visto com misericórdia por Exu. Os orixás determinaram que Xapanã não
falaria mais no oráculo, para não se saber das epidemias e doenças. Ficaria encerrado em uma panela de barro com tampa emborcada,
escondendo todos os segredos da epidemias.Xapanã foi expulso do reino. Dizia-se que com ele também a morte havia
partido. E todos festejaram. No seu caminho para o exílio, Xapanã encontrou Exu, que, penalizado, levou-o até Oronmilá. O
sábio leu o futuro de Xapanã e o mandou fazer ebós. Recomendou que sempre andasse acompanhado por cachorros, pois era isso
o que dizia seu odu. Assim seria respeitado e louvado em uma terra a que enfim chegaria. Xapanã fez as oferendas como foi
recomendado. Acompanhado pelos cães que adotou, continuou seguindo seu caminho. Um dia chegou ao Daomé, onde reinava um cruel
tirano. O rei sem coração estava morrendo de peste. Todos já sabiam que a peste e Xapanã eram a mesma coisa. O rei mandou
que levassem Xapanã a seu palácio. Ao ver Xapanã, o rei prostrou-se a seus pés e pediu perdão por todas as suas atrocidades.
Xapanã fez oferendas e Olofim mandou a chuva. E a chuva cavou um buraco aos pés do governante e o buraco tragou todas as más
ações do enfermo rei. O rei foi curado de seus males. Xapanã foi adorado e respeitado nas terras do Daomé, onde é sempre precedido
por Exu. Lá ele ocupa lugar importante no tabuleiro de Ifá. Lá Xapanã foi chamado Obaluayie, o Senhor da Terra.
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