Exú
"O Mensageiro dos Orixás"
"A palavra EXU em iorubá significa
"ESFERA", aquilo que é infinito, que não tem começo nem fim. Exu, serve como intermediário entre os Orixás e nós, homens.
É a força da criação, é o princípio de tudo, o nascimento, o equilíbrio negativo
do Universo, o que não quer dizer coisa ruim. Exu é a célula da criação da vida, aquele que gera o infinito, infinitas vezes.
É o primeiro passo em tudo. Está presente, mais que em tudo e todos, na concepção global da existência. É a capacidade
dinâmica de tudo que tem vida. Principalmente dos seres humanos, que carregam em
seu plexo este elemento dinâmico denominado Exu. No candomblé é chamado Bára, ou seja, "no corpo",
preso a ele. É a abertura de todos os caminhos e a saída de todos os problemas. Aquele
que ludibria, engana, confunde; mas, também ajuda, dá caminhos, soluciona.Seu símbolo não é o tridente associado
ao diabo, mas sete ferros voltados para cima representando os sete caminhos do homem, os sete chacras (pontos de captação,
distribuição e armazenamento de energia),
as sete cores, as sete auras É o mais humano dos orixás, sendo uma divindade de fácil relacionamento. Sua função de contato
entre o homem e os demais orixás faz com que supere o real, e atinja o mágico. São os
orixás que respondem no jogo de búzios, mas é Exu que traduz a resposta.É o fiel mensageiro
daqueles que o enviam e que lhe fazem oferendas. Esù tem as qualidades de seus defeitos, é dinâmico e jovial. Foi ele também
quem revelou a arte da adivinhação aos humanos. Seu lugar de origem é impreciso. É a Esù que devem ser feitas as primeiras
louvações e oferendas. A isso se chama, no Brasil, "despachar" Esù, com um duplo objetivo, o de despacha-lo como mensageiro
para chamar e convidar os Òrìsà para a cerimônia e também de despacha-lo, envia-lo para longe, afin de que ele não venha a
perturbar a boa ordem da festa por meio de gracejos de mal gosto. Os fios de conta das pessoas protegidas por ele são vermelhos
e pretos e a segunda-feira é o dia que lhe é consagrado. Dizem na Bahia que existem vinte e um Esù; outros falam de sete,
ou de vinte vinte e uma vez vinte e um, mas ele é ao mesmo tempo múltiplo e uno. Eis os nomes de Esù, segundo um informante:
Elegbara, Alaketu, Lalu, Jelu, Run Danto." Pierre Verger ( Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns ) Exú Elegbára = senhor
do poder Exú Yangi = pedra vermelha de laterita, primeira protoforma existente - água + terra - Exú Àgbá = pai-ancestre
(representação coletiva de todos os exús individuais) Exú Obá - rei-de-todos Exú Alakétu = título dado a exú pelos
kétu da Bahia - rei do povo Kétu Exú Elebo = senhor-das-oferendas Exú Ojìse-ebo = encarregado-e-transportador de oferendas
Exú Elérú = senhor do erú (carrego) Exú Olòbe = proprietário e senhor da faca Exú Enú-gbárijo = explicitador de
mensagens Exú Bara = o rei do corpo (obá + ara) (princípio de vida individual) Exú Odara = aquele que guia (mostra
o caminho, vai na frente) Exú é o 1º nascido da existência e, como tal, o símbolo do elemento procriado. Mensageiro dos
orixás , elemento de ligação entre as divindades e os homens, a um tempo mais próximo do mundo terreno e mais perto do elevadíssimo
espaço celeste por onde transita Òrúnmìlà, é um orixá, é sempre a primeira divindade a receber as oferendas, justamente para
que atue como um aliado e não como um rival que perturbe os procedimentos místicos desenvolvidos durante os rituais. Princípio
dinâmico e princípio da existência individualizada, Exú não pode ser isolado ou classificado em nenhuma das categorias. Ele
é como o axé (que ele representa e transporta), participa forçosamente de tudo. Segundo Ifá cada um tem seu próprio exú e
seu próprio Olorún em seu corpo. O nome de exú é conhecido, invocado e cultuado junto ao orixá. E é Ifá quem revela e permite-nos
sabê-lo.
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os artigos de Reginaldo Prandi :
Exú - De Mensageiro a Diabo
Pombagira e as faces inconfessas do Brasil
LENDAS DE EXÚ
1-EXÚ E OGÃ
Exú sempre
foi o mais alegre e comunicativo de todos os orixás. Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre outras funções, a de comunicador
e elemento de ligação entre tudo o que existe. Por isso, nas festas que se realizavam no orun (céu), ele tocava tambores e
cantava, para trazer alegria e animação a todos.Sempre foi assim, até que um dia os orixás acharam que o som dos tambores
e dos cânticos estavam muito altos, e que não ficava bem tanta agitação.Então, eles pediram a Exú, que parasse com aquela
atividade barulhenta, para que a paz voltasse a reinar.Assim foi feito, e Exú nunca mais tocou seus tambores, respeitando
a vontade de todos.Um belo dia, numa dessas festas, os orixás começaram a sentir falta da alegria que a música trazia. As
cerimônias ficavam muito mais bonitas ao som dos tambores.Novamente, eles se reuniram e resolveram pedir a Exú que voltasse
a animar as festas, pois elas estavam muito sem vida.Exú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito ofendido quando sua animação
fora censurada, mas prometeu que daria essa função para a primeira pessoa que encontrasse.Logo apareceu um homem, de nome
Ogan. Exú confiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos orixás. E, daquele
dia em diante, os homens que exercessem esse cargo seriam respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans.Laroyê !
2-A BRIGA DE DOIS AMIGOS
Certa vez, dois
amigos de infância, que jamais discutiam, esqueceram-se, numa segunda-feira, de fazer-lhe as oferendas devidas. Foram
para o campo trabalhar, cada um na sua roça. As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro. Exu,
zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-lhe um golpe à sua maneira. Ele colocou sobre a cabeça
um boné pontudo que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo. Depois, seguiu o canteiro, chegando à
altura dos dois trabalhadores amigos e, muito educadamente, cumprimentou-os: Bom trabalho, meus amigos! Estes,
gentilmente, responderam-lhe: bom passeio, nobre estrangeiro! Assim que Exu afastou-se, o homem que trabalhava no
campo à direita, falou para o seu companheiro: Quem pode ser este personagem de boné branco? Seu chapéu era vermelho,
respondeu o homem de campo à esquerda. Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe!
Ele era vermelho, um vermelho escarlate, de fulgor insustentável! Ele era branco, trata-me de mentiroso? Ele era
vermelho, ou pensas que sou cego? Cada um dos amigos tinha razão e estava furioso da desconfiança de outro. Irritados,
eles agarraram-se e começaram a bater-se até matarem-se a golpe de enxada. Exu estava vingado! Isto não teria
acontecido se as oferendas a Exu não tivessem sido negligenciadas. Pois Exu pode ser o mais benevolente dos orixás
se é tratado com consideração e generosidade. Há uma maneira hábil de obter um favor de Exu. É preparar-lhe um
golpe mais astuto que aquele que ele mesmo prepara.
3-ALUMAN E A SECA
Conta-se que Aluman
estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam áridos, a chuva não caía. As rãs choravam de tanta sede
e os rios estavam cobertos de folhas mortas , caídas das árvores. Nenhum orixá invocado escutou suas queixas e gemidos.
Aluman decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de carne de bode. Exu comeu com apetite desta excelente oferenda.
Só que Aluman havia temperado a carne com molho muito apimentado. Exu teve sede. Uma sede tão grande que toda a água de
todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede!
Exu foi à torneira da chuva e abri-a sem pena. A chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu no dia seguinte
e no dia depois, sem parar. Os campos de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua gloria. Aluman,
reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta. Havia chovido bastante. Mais seria
desastroso! Pois, em todas as coisas, o demais é inimigo do bom.
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